sábado, 9 de abril de 2016

Créditos de felicidade


     A gente precisa, na vida, acumular créditos de alegria, de coisas boas. Viver muitas coisas legais mesmo, divertidas, prazerosas, de forma que na hora do perrengue, (mas perrengue de verdade, não vale inventar motivo)  temos cartuchos de felicidade acumulados. Quando uma pessoa querida adoece, um amigo precisa de ajuda, um amor acaba, daí a gente tem de onde tirar, pra ajudar, pra superar, pra lutar...se não acumulamos alegrias, a vida vai se tornando amarga e quando a situação aperta de verdade, desistimos. 
     Até aí todo mundo entende e concorda. O problema é como acumular esses créditos, onde guarda-los afinal? Dando atenção para as pequenas coisas boas da vida, muito pequenas, quanto menores melhor.
     Você pode começar se alegrando com um êxito no trabalho, o nascimento de um bebê saudável, a recuperação de uma pessoa doente, o reencontro com um amigo antigo, fazer as pazes depois de uma briga, viajar. Mas vamos diminuir mais um pouco as pequenas alegrias: uma boa refeição, em boa companhia, um bom papo,uma caminhada na praia, no parque, por aí. Um dia de sol para pedalar. Um dia de chuva para beber um bom vinho. Um dia qualquer para ler um livro. Ir ao cinema. A filha que vem para o almoço. Planejar uma viagem. Um roupa nova. Um banho de cachoeira.
    Mas vamos diminuir um pouco mais as pequenas alegrias: ver fotos antigas, ouvir música no café da manhã de domingo. Descobrir um filé de salmão fresco em promoção. Um 'bom dia' na calçada. Tempo livre. Saber que se fez um trabalho bem feito. Um abraço apertado. O primeiro gole de uma cerveja bem gelada numa dia de muito calor. Segurar uma xícara de café quente com as duas mãos num dia muito frio. Um cheiro no cangote.
   Será que podemos diminuir ainda mais as pequenas alegrias? Sentir um prazer simples num suspiro profundo antes de abrir os olhos ao acordar. Espreguiçar-se com a satisfação de estar vivo. Experimentar uma alegria genuína ao sentir o gosto do café. Não engolir o café, não saltar da cama, não andar como um sonâmbulo. Desfrutar verdadeiramente o cheiro da chuva, a luz do outono, o som do mar. Nas pequenas alegrias nada é trivial. Para percebe-las, se faz necessário um corpo sensível e uma mente presente. Esses dois pormenores são a diferença radical entre uma vida desfrutada e uma vida perdida. Um corpo sensível, disponível, conectado e uma mente atenta. É o corpo que nos traz para o presente, pois a mente insiste em vagar entre o que já foi e o que será. O corpo por sua vez só existe nesse tempo, nesse lugar. Sem ele, a mente se perde na depressão de viver no passado ou numa ansiedade constante ao tentar prever o futuro.
   É somente no presente que acumulamos os créditos de felicidade, não é em nenhum outro lugar além desse onde você se encontra agora, exatamente agora. 

    
   







2 comentários:

  1. Perceber as "pequenas" alegrias da vida tem um valor imensurável, significa estar presente e conectado com os nossos próprios sentimentos sempre atentos as reações do corpo e da mente. A felicidade portanto, é uma dádiva dos sentidos e ser grata por tudo uma benção!

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    1. Excelente colocação Celiane, obrigada!'A felicidade é uma dádiva dos sentidos...' excelente frase!!

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