domingo, 13 de novembro de 2016

Irmãs


   Hoje apetecia-me deveras sentar na varanda e tomar um café quentinho com as minhas irmãs.
   No meu passado, Téte, a caçula era o meu bebê, minha protegida. E Juju, um ano e pouco mais nova que eu, era minha amiga, minha protegida. Ninguém mexia com elas se eu estivesse por perto, irmã mais velha e a mais alta da escola. Mais conhecida como 'varapau'.
    No passado, quando chegava em casa, minhas irmãs eram um obstáculo na conquista da atenção dos meus pais. Juju de vez em quando levava uns tapas. Bom jeito de chamar atenção. Mas ninguém mais tocava nela, só eu.
   Na Téte eu não tinha coragem de bater, ela tinha uma alma de passarinho e eu medo de desfazê-la.
   Téte passarinho. Juju alma flor. E eu alma corpo.
   Três criaturas tão distintas amadureceram em direções diferentes.
   Juju é pão de queijo na fazenda.
   Téte é garçom empilhando as cadeiras às quatro da manhã.
   Eu, caminhada de uma hora e quinze minutos.
   Tão diferentes e ainda assim, irmãs.
   Demorei uns bons trinta anos para me encantar com as dessemelhanças entre nós. E se as improváveis diferenças se espicharam ao longo de toda a vida, significa que meus pais souberam ver, de alguma forma, essas três almas. E cada uma se tornou o que é...
   Vivemos fisicamente muito distantes umas das outras, um oceano nos separa. E eu sonho com o dia em que seremos vizinhas de bairro. Um dia desses os continentes se aproximam, como há milhões de anos se afastaram. E então no aniversário de uma ou de outra, sentaremos na varanda para tomar um café e comer um bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
 
 

 

4 comentários:

  1. Sempre muito poético o que você escreve. Hoje, verte amor. Fiquei emocionada. Obrigada

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  2. Ah o amor.....sempre nos ensinando como cada afeto é e deve ser único e diferente! E viva a riqueza da vida, pois é só isso que levamos...os bons encontros!!!!

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  3. Achei de uma simplicidade maravilhosa.

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