quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Sonho



  Hoje durante o sono eu passeava por uma cidade. As ruas eram limpas e bem cuidadas.
   Eu me perdi andando pelas ruas perfeitas de um mundo irreal, limpo, elegante, justo.
   Não sei se foi antes ou depois do amanhecer que eu caminhei por essa cidade onde não havia corruptos. Um mundo onde todos os doentes são atendidos. Onde crianças vão à escola. E aviões não caem por falta de combustível.
   Hoje durante o sono  me perdi atravessando uma ponte. Nela não havia mendigos. Num banco um casal de cabelos alvos conversava. Uma garça pousou na murada e eu reencontrei o caminho.
   Andei e andei passando de um país para o outro, sem superiores a me pedirem um documento. Simplesmente ia andando, um pé depois do outro, sem culpa, sem fome, sem peso. Pude deixar meu corpo andarilho flutuar, minha mente transgênera se expandir, meu coração cansado repousar.
   Nesse mundo não havia pedestres nas ciclovias, nem buzinas de carro, nem ciclistas nas calçadas.
   Era um mundo simples, onde cada um espera sua vez na fila.
  Hoje durante o sono eu caminhei por um mundo onde meninas não são drogadas e violadas. Onde homens não tem vontade de fazer isso.
   Durante o sono eu respirei um ar sem poluição. Respirei o ar de um mundo onde um ser racista, machista, e homofóbico não é o líder da maior potência econômica.
   Era maio, e eu caminhava por um mundo irreal, onde não há tortura, fome, guerra. Um mundo simples, feito de pessoas simples, que não matam por dinheiro, não roubam por poder, não traem por gana.

  E então eu abri meus olhos e acordei para o alarido desconexo dos mendigos, dos assassinos, dos corruptos, dos famintos, dos espertos, dos preguiçosos. Abri os olhos para o país da falsa alegria coletiva desvairada que acontece principalmente aos domingos. Acordei para o noticiário histérico.

  Estiquei minhas pernas. Vesti minha roupa de gladiadora e segui sem nenhuma melancolia em direção ao mundo real.



Nenhum comentário:

Postar um comentário