domingo, 23 de outubro de 2016

verão


  Num dia de céu azul e calor grosso
  Eu vi o suor brotando na sua testa, e escorrendo pelo canto do rosto
  Num dia de verão carioca eu te vi

   A imprevista certeza
   Já nos conhecíamos a cem anos, mais foi nesse dia que eu te vi
 
   A ruga na tua testa mirando o computador
   O calor ficou mais intenso, subiu pelo meu estômago e queimou a minha garganta

   'Com quem será que ele conversa sentado aqui na minha frente?'

   A imprevista certeza

   Num dia de mosquitos elétricos eu disse que te amava
   Não tenho explicação para isso
   Mas é assim: amo-te

   Você elevou os olhos do computador
   A ruga se desfez

   - Eu também te amo.

   Num dia de calor gordo e viscoso quem teria coragem de se declarar?
   Num mundo de não envolvimento,
   Quem teria coragem?

   No dia seguinte, havia cinco folhas a mais na sucupira
   Estávamos, eu e você
   Contribuindo para o reflorestamento da cidade

    (abri os olhos, senti o cheiro de chuva
    te ouvi sussurrar ao pé do meu ouvido,
    voltei a dormir enquanto a cidade despertava)

 





sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Perfeição


   Eu me encontrei na sordidez de um mundo
   Onde é preciso ser corrupto, agiota, devoto ou prostituta.
   
   Nas espumas das praias distantes fui economista, física, médica
   Mas me deparei com um mundo de sordidez
   Onde é preciso engalfinhar-se seriamente
   E eu não quis...

   Não pude
 
    Nesse mundo mesmo me encontrei
    Do avesso me desfiz
    E do lado de dentro encontrei criatura
 
    Não fui forte para vencer todos os labirintos
    Escolhi os mais importantes e me refiz
    Longe do visgo do gozo de nata. Do puxa saquismo ressequido.

   Perdi tesouros, eu sei
   Perdi tesouros adormecidos em mim
   Não fui forte para muitas tempestades
   
    Eu me encontrei na sordidez de um mundo
    Onde é preciso engalfinhar-se
    Não fui forte para muitas lutas
   
    Escolhi a luta pela paixão
    Aquela que habita o improvável
    E sua trágica e jubilosa
    Perfeição