segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Herança.


   
 Arisco-me hoje a buscar uma trilha em direção ao passado.
    Um olhar para trás.
    Sem melancolia.
    Assim como os físicos, que amam a natureza, buscam incansavelmente a origem de tudo.
    Hoje olho para trás em busca dos meus antes de mim.
    E tudo que deles existe nos meus olhos, nos meus feitos e desfeitos, no meu coração.
    Peguei na caixinha de memórias as cartas.
    A caligrafia incerta do meu avô e da minha avó.
   Seguro o frágil papel com toda delicadeza para que  não se desmanche entre os meus dedos.
    Não escrevo hoje para contar sua história. Mas para honrar sua memória e agradecer sua existência.
     Herança.
     Do meu avô disciplina, rigor, retidão.
     Da minha avó alegria, cafuné, polenta com frango ensopado.
     E as cartas.
     Nessas recebo amor, elas transbordam amor. E eu posso tocar, e cheirar.
     Trinta anos depois de escritas eu posso tocar e cheirar.
     E elas transbordam.
   




   
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário