quarta-feira, 25 de maio de 2016

raízes e asas

 

Parte 1 - Clara 

   Um dia sua filha cresceu. É assim mesmo com os filhos, eles crescem, e isso é muito saudável. Não é?
    Clara sempre disse que nós criamos os filhos para o mundo. Discurso mais sem pé nem cabeça, ela pensou quando sua filha saiu de casa. Nós criamos os filhos porque os amamos, só isso. E quando eles vão para o mundo é um 'deusnosacuda'.
     Sua filha Lia sempre foi uma excelente aluna e passou nas duas universidades para as quais fez prova. Um pública e uma particular. Clara quebrou a cabeça vários dias tentando decidir. Pesava as greves de um lado contra o preço muito alto de outro. Pediu conselhos a diversos amigos, sobre a qualidade de cada uma, pesquisou daqui e de lá. 
     Certo dia escutou sem querer a filha falando ao telefone:
     - Não Jô minhas aulas começam dia 12, eu já tô vendo as matérias e conversando com os professores.
     Clara percebeu que seu bebê não precisava mais dela para as decisões difíceis. Andou até seu quarto como que desnorteada. Para que eu vou servir? Não tem mais fralda, comida. Ela não precisa mais de mim nem pra ir pra escola...universidade! Eu vou ser exatamente o que na vida dela? Ela sequer perguntou oque eu achava.
     Pensou muito sobre isso, tentou encontrar uma resposta, Construiu uma imagem em sua mente. Pensou que um filho é como uma árvore, e que os pais são suas raízes. Uma árvore só cresce forte, seus galhos só alcançam longe se ela tive raízes grossas e profundas. Seu papel agora era se fortalecer.
    Mas despedir-se de um filho é como despedir-se de si. Ver um filho seguir seu caminho é como ver a si mesma caminhando pelas ruas em carne viva.
     Eu vou conseguir e ela também, afinal, educar é dar raízes a quem almeja asas.
     Clara repetia frases de efeito para se convencer. Tocou sua vida.

Parte 2 - Lia

     Morava com a amiga Luiza havia dois meses. Elas estavam organizando as compras de mercado, a arrumação da casa, contas. A universidade demandava tempo e somada às tarefas domésticas resultou numa vida um tanto caótica.
     Lia acordou mais cedo e sentou-se em sua escrivaninha para fazer uma lista de afazeres antes mesmo de tomar café.
     - Mercado. Tenho que fazer uma lista, será que temos produtos de limpeza suficiente para o mês?
     - Ligar para o eletricista. Não sei onde está o número, tenho que fazer uma lista de telefones úteis.
     - Arrumar roupas. 
     Olhou ao redor. Roupa no chão, em cima da cadeira, em cima da tela do computador. Pegou o telefone e discou.


Parte 3 - Clara e Lia

     - Mãe! Você pode vir pra cá? Eu tô surtando. Eu preciso muito de você!
     Clara sorriu mas não deixou transparecer na voz.
     - Claro. Tô indo praí. 
     - Obrigada, te amo!

    
      






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