sábado, 4 de julho de 2015

Pausa.


     
      Outro dia saí de bicicleta debaixo de uma chuvinha fina para trabalhar. Torcendo para que o tempo não piorasse vesti minha capa de chuva: um dos meus trajes de super heroína do dia a dia. Pedalando da segunda para a terceira aula parei num sinal. Apoiei o pé direito no meio fio e olhei para o céu. Vários 'azuis' em meio às nuvens de chuva. O sol bateu na minha pele e aqueceu meu rosto.  
     Me ocorreu que um raio de sol somente ganha seu real significado depois de uma boa chuva e uma noite fria. 
     Os ciclos não são apenas inevitáveis, mas necessários para nossa própria sobrevivência: sol e noite, alegria e dor, dia e noite, rotina e novidade, juventude e envelhecimento, agitação e imobilidade, ruído e silêncio, vida e morte. E entre eles as pausas, o nada.
     Assim é a existência, como uma música. Alguma vezes nós até somos bons concertistas, e se não podemos tocar cada nota ao menos decidimos o ritmo. Mas na maioria das vezes, os ciclos naturais se sobrepõem à nossa vontade. 
    Quando conseguimos ouvir a música da vida, e dançar nesse ritmo único, passamos pela existência de forma mais plena e verdadeira, permitindo que a real beleza de estar vivo aconteça. 
     Tudo isso me veio à mente num segundo, observando os carros correndo e as pessoas paradas esperando o sinal fechar. Nenhuma delas percebeu como o tempo mudava para melhor, com as nuvens dando espaço para o sol. Todos olhavam a luz vermelha que lhes indicava que deveriam ficar parados, ou digitavam algo fundamental em seus celulares.
    O mundo virtual não tem nenhum ciclo. Ele é uma linha constante de informação, novidades, conexão, consumismo, opinião, histeria, que está levando nossas mentes à exaustão.  Sem os ciclos estamos começando a entrar em colapso. Perdemos o espaço da pausa, da dor, do recolhimento. Perdemos o momento do sono e então, como a mente não desliga tomamos drogas para dormir.
    Internet, tv, vídeo game, jogos on line. Ansiedade. Insônia.
   A mente segue orgânica, incompreendida, perdida, cansada. A mente não quer interatividade, ela precisa de um intervalo. Uma pausa que é um encontro consigo mesmo, e desse encontro surge uma nova energia para a próxima ação. 
    O mundo virtual parece ter substituído o mundo interior. Nos tornamos seres inacabados, com medo de enxergarmos a nós mesmos e preferindo nossos avatares. Nossos avatares que nunca dormem, não tem rugas ou soltam gases, porque não tem um corpo imperfeito para ser tocado. Nossos avatares que só amam outros avatares, e nunca se tocam.
    E nós, onde estamos? Quem somos?
    De verdade.

     

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