domingo, 23 de agosto de 2015

Viver exige joelhos fortes


    Tania me procurou indicada  por uma amiga fisioterapeuta. Tinha operado o joelho fazia pouco mais de dois meses e havia recebido indicação médica de, após receber alta da fisioterapia, começar atividade física imediatamente. Tania nunca gostara de exercícios físicos, era uma intelectual convicta. Mas seu corpo mandou-lhe um sinal inequívoco: num movimento corriqueiro rompera-lhe um ligamento. A dor foi terrível. 
     Ela chegou no meu estúdio mancando de leve, meio encurvada para frente, carregando um peso invisível nos ombros. Não tinha força muscular. Notava-se uma frouxidão ligamentar que dava uma falsa impressão de ter articulações flexíveis, quando na verdade ela não tinha estabilidade nenhuma. Ao olhar para ela tinha-se a impressão de uma pessoa afundada.
     Como geralmente acontece nas aulas individuais Tania me falava de sua vida. Uma mulher na casa dos 40, traços harmoniosos, inteligente, mas solitária. Nunca tivera um  relacionamento por mais de um ano, sua auto estima era um tanto danificada. Ela parecia ter certeza de não ser desejável. Não compreendia e não gostava do seu corpo.
    Muitas vezes ela se irritava com exercícios mais  desafiadores. Não fazia aula em grupo porque tinha vergonha.
    Iniciamos fortalecendo o quadríceps com caneleiras, aumentando o número de repetições e a carga lentamente. Depois de quatro meses passamos a fazer agachamentos. Além disso fazíamos todo o trabalho de fortalecimento e alongamento geral. Sempre acreditei que o corpo funciona como uma unidade. Não se cura um joelho fortalecendo apenas a musculatura envolvida com o joelho, mas reorganizando o corpo como um todo, postura, estabilização, auto imagem. Relaxando e fortalecendo toda a máquina fisiológica que é o corpo humano. 
   Depois de cinco meses de aulas o joelho de Tânia estava ótimo. Ela já subia e descia escadas com facilidade e podia agachar para brincar com a sobrinha. Era uma aluna dedicada e atenta, nunca faltava às nossas sessões. Joelhos machucados de alunos  que não conseguem manter a frequência de treinamento podem demorar até um ano para se recuperar.  Esse não era o caso de Tania e ela já cogitava a hipótese de fazer aulas de grupo, parecia estar mais segura, mais presente em seu próprio corpo. Emagrecera um pouco, sua postura se tornou mais equilibrada, mais vertical. A cabeça, antes projetada para frente, numa tentativa desesperada de compreender o outro, estava agora no seu lugar de direito: no meio dos ombros. Essa nova postura, além de mais eficiente, menos dolorida, é muito mais elegante. 
   Certo dia, passados mais de seis meses de aula ela chegou com o joelho inchado e sentindo muita dor. Decepcionada eu perguntei:
    - O que houve? Como seu joelho piorou tanto?
    Ao que ela respondeu sorrindo:
     - Valeu a pena!

       A aula de grupo teve de ser adiada vários meses. Tania se casou um ano depois.



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