sexta-feira, 1 de maio de 2015

Universos paralelos


 
    A primeira meia hora sentado naquele café, numa mesa na calçada foi totalmente absorvida pelo celular. Emails, zapzap, facebook. Compromissos. Respostas importantes. Distrações inúteis.
    Então sentou-se ao seu lado uma moça e pediu dois expressos. Não um duplo. Nem um depois o outro. Dois ao mesmo tempo. Ela deixou o celular em cima da mesa. Um Nokia daqueles muito antigos que pareciam um tijolinho e que nada mais faziam do que ligações mandar sms. Ela ficou um bom tempo com as duas xícaras e o celular na sua frente sem tocar em nenhum dos três. 
    'Já tive um desses a muito tempo. Durou anos. É praticamente imortal. Se cair na água é só abrir, esperar secar e montar: fica novinho em folha.' Ele pensou em puxar o assunto com ela, mas não parecia que a moça quisesse conversar.
    Olhou para rua e observou as pessoas passando por alguns minutos.
    Pensou que estava viciado no seu celular repleto de funções.
    Logo a sua frente um homem negro do tipo macho carioca conversava com uma mulher. Ele tinha a cabeça raspada com a mesma lâmina que fazia a barba como se prologasse o gesto do maxilar, subindo pela costeleta, passando pela cabeça e terminando do outro lado do rosto para resolver a questão mais rapidamente. Camisa com os botões abertos mostrando os pelos do peito. Pochete de couro virada para tás. Postura e gestos de macho alfa do tipo: 'eu uso pochete sim, e pego a mulherada mesmo assim.' 
    A conversa entre os dois estava animada. Ele não conseguia escutar oque os dois conversam, estava a poucos metros de distância, mas o barulho do trânsito de Copacabana não permite esse tipo de intromissão. 
     Um terceiro personagem entra em cena. Um homem chega por trás e cutuca o primeiro no ombro que se vira e sorri. Esse segundo usa penteado estilo mulet muito bem tratado, talvez escovado. Óculos escuros na cabeça com aro vermelho, camiseta pólo branca bem justa, calça jeans colada e sapatos de couro muito bem cuidados. 
   Eles se abraçam e o primeiro homem dá fortes pancadas nas costas do segundo. Segue uma animada conversa. O homem da camisa branca ri, tira os óculos da cabeça, coloca na gola e arruma os cabelos enquanto o outro coça a virilha.
    Eles se despedem, novos tapas nas costas. O segundo homem beija o primeiro no rosto e esse sorri sem nenhum sinal de constrangimento. O segundo homem sai. A mulher apenas observa.
     A primeira conversa é retomada de onde parou, a cena durou menos de cinco minutos.
     A moça da mesa ao lado já tomou os dois expressos e pega um livro.
     Ele volta para o seu celular.

   'Curioso é o mundo concreto.'  

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