terça-feira, 21 de abril de 2015

Da percepção do tempo


      Ele saía três vezes por semana de ônibus para fazer a sua ginástica.
     Atravessava fora do sinal a rua movimentada às nove horas da manhã. Esticava o braço como um guarda de trânsito e confiava que os carros parariam para um senhor de 88 anos.
    Esperava alguns minutos no ponto e subia no ônibus sem maiores dificuldades. Era pra isso que fazia aqueles desagradáveis agachamentos, três séries de quinze rigorosamente.
    Quando chegava na aula, ia se trocar. Levava a roupa de ginástica dentro de uma pasta de couro. Não gostava nada da ideia de pegar ônibus de traje esportivo. Chegava de bermuda social e camisa, fechada até o último botão, sapatos de couro. Sua mulher havia lhe comprado uma mochila, mas ele gostava da pasta de couro, muito mais elegante, ele diria.
     Naquele dia ele saiu de casa mais feliz do que o de costume. Havia recebido a notícia de que seria avô de um casal de gêmeos.
    Quando chegou a sua aula, depois de tirar a camisa branca muito bem passada, dependura-la cuidadosamente e vestir sua camiseta de exercícios, ele caminhou até a sala.
    Contou a novidade para a professora.
   - Parabéns! Que legal ser avô de gêmeos aos 90 anos.
   Ele respondeu muito sério levemente agressivo:
   - Eu serei avô com 89! 89!
    

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