terça-feira, 24 de março de 2015

Panças espasmódicas


    Estava eu a caminhar languidamente pela calçada do Leblon, observando os transeuntes a minha volta, hábito que sempre exercitei.
    Três senhores de abdômen deveras avantajado, sentados num banco de madeira alguns metros a minha frente, falavam alto. 
    Cada um com uma lata de cerveja na mão. 
   Bermudas de marcas caras que não combinavam com as camisetas úmidas de suor. Chinelos nos pés. Três figurinos típicos de três machos acalorados de classe média alta.
    Assumiam os três, a mesma postura despencada, caída para trás. Os joelhos bem afastados, para dar espaço a masculinidade vultosa que mal devia caber dentro das calças, tocavam o joelho do coleguinha ao lado, que por sua vez também necessitava dar espaço a sua respectiva corpulência.
     Riam alto. Falavam alto. Gesticulavam. Não tentavam esconder o assunto interessantíssimo sobre o qual falavam.
     Mesmo porque, macho que é macho fala alto.

     - A teúda e mateúda do Marcão? Hahaha! Ele paga tudo pra ela!
     - Lógico! Uma mulher daquelas só iria com o Marcão por dinheiro!
     - Se me pagasse tudo eu também ia! Dizem que ele paga o aluguel, a faculdade, supermercado.
     - Mulher é tudo vagabunda.

      O hahaha grupal foi acompanhado de panças espasmódicas e algumas gotas de cerveja caídas nas camisetas chiques!

     - Tsc. Sei lá. Se me pagassem tudo eu também ia.
      Repetiu o mais jovem do trio.

     Pausa na confabulação.
     Eu acabara de passar do grupo.  Não me virei. Apenas imaginei a coreografia gestual dos três levando a latinha a boca e bebendo um gole de cerveja.

     - Tu ia comigo se eu te pagasse?

     Não pude ouvir a resposta, seguia meu caminho sem mudar o passo.

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